Ações terapêuticas.
Inibidor reversível da
acetilcolinesterase.
Propriedades.
Trata-se de moderno agente inibidor
reversível da colesterase ou da acetilcolinesterase (AChE), a qual é a enzima
que degrada o neurotransmissor colinérgico acetilcolina (Ac) no nível do
sistema nervoso central. É por esta razão que, sob ação deste fármaco, as
concentrações da acetilcolina no nível do córtex cerebral aumentam
significativamente, ao mesmo tempo que é evitada sua degradação por parte dos
neurônios colinérgicos ainda não atingidos pela patologia degenerativa que é a
doença de Alzheimer. O tratamento com donepezila demonstrou melhorar as funções
cognoscitivas do paciente, porém ainda não se dispõem de evidências definitivas
de que seja alterado o curso evolutivo dessa patologia demencial, cuja causa é
a doença de Alzheimer em cerca de 50% a 60%. Do ponto de vista químico,
trata-se de um derivado piperidínico que não está relacionado com os outros
fármacos inibidores da acetilcolinesterase como a tacrina, que é um derivado
acridínico.O tratamento de longo curso demonstrou seus benefícios sobre
diversas funções cognoscitivas e capacidade como memória, atenção,
concentração, orientação temporoespacial, linguagem, conduta, compreensão e
comportamento durante as tarefas habituais. Logo após sua administração por via
oral a donepezila é absorvida de modo rápido e completo pela mucosa do trato
gastrintestinal, sem ser afetado pela eventual presença de alimentos. Após dose
única de 5 mg alcança um Tmáx de 3 1,4 horas, apresenta elevada
ligação com proteínas plasmáticas (96%) e possui uma vida média de eliminação
prolongada (70 horas) sem relação com a dose, o que permite dose de uma única
tomada diária. Apresenta uma farmacocinética linear na faixa posológica de 1 mg
a 10 mg diários, sendo portanto possível aumentar a dose e predizer a elevação
de sua concentração no sangue. Cerca de 15% do fármaco é biotransformado no
fígado no nível do sistema do citocromo P450; aproximadamente 57% é recuperado
na urina e 15% nas fezes.O esquema posológico não requer modificação em
pacientes idosos nem em pacientes com disfunções hepáticas ou renais. A
eliminação é feita na forma de fármaco intacto ou como diversos metabólitos da
donepezila (derivados N-debenzílico, glicuronídeo, desmetil etc.) e ainda
outros cuja identidade ainda não foi possível determinar.
Indicações.
Demência tipo Alzheimer leve ou
moderada.
Posologia.
O tratamento deverá ser iniciado com 5
mg em dose única administrada à noite, durante um período de 30 dias. A partir
desse período e conforme a resposta clínica observada, passará a empregar-se 10
mg, também uma vez ao dia. Não existem estudos clínicos realizados com doses
superiores a 10 mg diários. Detectou-se uma diminuição dos efeitos benéficos do
donepezila após a suspensão do tratamento.
Superdosagem.
Igualmente como no caso de qualquer
tipo de superdose, devem-se utilizar medidas gerais de suporte. As superdoses
de inibidores da colinesterase podem causar crises colinérgicas caracterizadas
por náuseas intensas, vômitos, salivação, sudoração, bradicardia, hipotensão,
depressão respiratória, colapso e convulsões. É possível ocorrência de uma
maior fraqueza muscular, o que pode acarretar a morte se houver comprometimento
dos músculos respiratórios. Tratamento da superdose: podem ser usados
anticolinérgicos derivados do amônio terciário, como a atropina, como antídotos
da superdose com donepezila. Recomenda-se a administração intravenosa de sulfato
de atropina, titulado para obter o efeito desejado: uma dose incial de 1 mg a 2
mg por via intravenosa, devendo ser as doses subsequentes baseadas na resposta
clínica. Foram registradas respostas atípicas da pressão arterial e da
freqüência cardíaca quando outros colinomiméticos foram administrados
conjuntamente com anticolinérgicos derivados do amônio quaternário, como
glicopirrolato.Não se sabe se o donepezil ou seus metabólitos podem ser
extraídos por diálise (hemodiálise, diálise peritoneal ou hemofiltração). Em
animais, entre os sinais de toxicidade relacionados com a dose, mencionam-se
redução da movimentação espontânea, posição de decúbito prono, marcha
cambaleante, lacrimejamento, convulsões clônicas, depressão respiratória,
salivação, miose, fasciculação e diminuição da temperatura da superfície
corporal.
Reações adversas.
Em geral, foram de natureza leve e
transitórias, apresentando-se no início do tratamento e melhorando sem
necessidade de modificar a dose. As reações adversas registradas com maior
frequência (pelo menos em cerca de 1% dos casos) que chegaram a provocar a
interrupção do tratamento em estudos clínicos controlados foram: náuseas,
vômitos, diarreia, dispepsia, insônia, cãibras musculares, astenia, fadiga e
anorexia. Observando classifação por aparelhos e sistemas, as reações adversas
observadas, pouco frequentes (incidência entre 0,1 e 1% dos pacientes), foram
similares às dos grupo placebo e são as que se mencionam a seguir. As reações
adversas foram classificadas por sistema e são detalhadas utilizando as
seguintes definições: reações adversas frequentes (as que foram observadas em
pelo menos 1% dos pacientes) e reações adversas infrequentes (as que foram
observadas entre 1% e 0,1% dos pacientes).Estas reações adversas não necessariamente
estavam relacionadas com o tratamento com a donepezila e, na maioria dos casos,
foram observadas com frequência similar àquela detectada nos pacientes tratados
com placebo nos estudos controlados. Gerais. Frequentes: influenza, dor
pré-cordial, odontalgias. Infrequentes: febre, edema facial periorbitário,
hérnia de hiato, abscessos, celulite, calafrios, frialdade generalizada,
embotamento dos sentidos, diminuição da atenção. Sistema cardiovascular.
Frequentes: hipertensão, vasodilatação, fibrilação atrial, sufocação,
hipotensão. Infrequentes: angina de peito, hipotensão postural, infarto do
miocárdio, bloqueio atrioventricular (do primeiro grau), insuficiência cardíaca
congestiva, arterite, bradicardia, doença vascular periférica, taquicardia
supraventricular, tromboses de veias profundas. Aparelho digestivo. Frequentes:
incontinência, sangramento gastrintestinal, inflamação,
epigastralgia.Infrequentes: eructações, gengivite, aumento do apetite,
flatulência, abscessos periodontais, colelitíase, diverticulite, sialorreia,
boca seca, gastrite, cólon irritável, edema de língua, mal-estar epigástrico,
gastrenterite, aumento dos níveis circulantes de transaminases, hemorroidas,
icterícia, melena, polidipsia, úlcera duodenal, úlcera gástrica. Sistema endócrino.
Infrequentes: diabetes mellitus, bócio. Sistema hematolinfático. Infrequentes:
anemia, trombocitemia, trombocitopenia, eosinofilia, eritrocitopenia.
Transtornos metabólicos e nutricionais. Frequentes: desidratação. Infrequentes:
gota, hipocalemia, aumento da CPK, hiperglicemia, aumento de peso, aumento do
LDH. Aparelho musculoesquelético. Frequentes: fraturas ósseas. Infrequentes:
fraqueza muscular, fasciculação dos músculos da face. Sistema nervoso.
Frequentes: ideias delirantes, tremores, irritabilidade, parestesia, tendência
a agressividade, vertigens, ataxia, aumento da libido, inquietação, choro
anormal, nervosismo, afasia.Infrequentes: acidente vascular cerebral,
hemorragia intracraniana, AIT, instabilidade emocional, nevralgias, frialdade
localizada, espasmos musculares, disforia, distúrbios da marcha, hipertonia,
hipocinesia, neodermatite, entumecimentos localizados, paranoia, disartria,
aumento da hostilidade, diminuição do libido, melancolia, retraimento
emocional, nistagmo. Aparelho respiratório. Frequentes: dispneia, dor de
garganta, bronquite. Infrequentes: epistaxe, alteração da secreção nasal,
pneumonia, hiperventilação, congestão pulmonar, sibilos, hipóxia, faringite,
pleurisia, colapso pulmonar, apneia durante o sono, roncos. Pele e anexos.
Frequentes: prurido, diaforese, urticária. Infrequentes: dermatite, eritema,
descoloração da pele, hiperqueratose, alopecia, dermatite fungosa,
herpes-zóster, hirsutismo, estrias, suores noturnos, úlceras cutâneas. Sentidos
especiais. Frequentes: cataratas, irritação ocular, visão turva.Infrequentes:
xerostomia, glaucoma, otalgia, tinito, blefarite, hipoacusia, hemorragia
retiniana, otites externa e média, disgeusia, hemorragia conjuntival, vertigem
ao movimentar-se, manchas oculares. Aparelho geniturinário. Frequentes:
incontinência urinária, enurese noturna. Infrequentes: disúria, hematúria,
premência miccional, metrorragia, cistite, enurese, hipertrofia prostática,
pielonefrite, obstrução urinária, fibroadenose mamária, enfermidade
fibrocística das mamas, mastite, piúria, insuficiência renal, vaginite.
Precauções.
Anestesia: como inibidor da
colinesterase, é provável que a donepezila exacerbe o relaxamento muscular
provocado pela succinilcolina durante a anestesia. Transtornos
cardiovasculares: devido a sua ação farmacológica, os inibidores da
colinesterase podem produzir efeitos vagotônicos sobre a frequência cardíaca
(por exemplo, bradicardia). A possibilidade da ocorrência desta eventualidde
pode ser especialmente importante quando do tratamento de pacientes com
enfermidade do nó sinusal ou outras afecções da condução cardíaca
supraventricular. Em associação com o uso da donepezila foram registrados casos
de síncope. Afecções gastrintestinais: através de sua ação primária, os
inibidores da colinesterase podem aumentar a secreção de ácido gástrico em
função de sua maior atividade colinérgica.Assim, portanto, torna-se necessário
exercer vigilância estrita dos pacientes sob tratamento com a donepezila e, em
especial, aqueles sob maior risco de desenvolver úlceras (pacientes com
antecedentes de úlcera ou que estejam concomitantemente sob tratamento com
fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINE), com o objetivo de detectar
a presença de sintomas de sangramento gastrintestinal oculto ou ativo. Os estudos
clínicos com donepezila não revelaram aumento, em relação ao placebo, da
incidência tanto de úlcera péptica como de sangramento gastrintestinal. Levando
em consideração as propriedades farmacológicas da donepezila, e dentro das
consequências previsíveis, registraram-se náuseas, vômitos e diarreia. Estes
efeitos parecem apresentar-se mais frequentemente com a dose de 10 mg diários
do que com a dose de 5 mg diários. Na maior parte dos casos, estes efeitos têm
sido leves e transitórios, em algum dos casos prolongando-se por durante uma a
três semanas e melhorando à medida que transcorria o tratamento com a
donepezila.Transtornos geniturinários: ainda que estes distúrbios não tenham
sido observados nos estudos clínicos com a donepezila, os agentes colinomiméticos
podem causar retenção urinária. Afecções neurológicas. Convulsões: acredita-se
que os agentes colinomiméticos possuam certo potencial para causar convulsões
generalizadas. Não obstante, as convulsões podem também ser uma manifestação da
doença de Alzheimer. Afecções pulmonares: em virtude de suas ações
colinomiméticas, os inibidores da colinesterase devem ser prescritos com
cautela a pacientes com histórico de asma ou de doença pulmonar obstrutiva.
Interações.
Efeito da donepezila sobre o
metabolismo de outros fármacos: não foram realizados estudos clínicos in
vivo que determinem o efeito da donepezila sobre a depuração de fármacos
metabolizados pelo sistema do citocromo CYP 3A4 (por exemplo: cisaprida,
terfenadina) ou pelo CYP 2D6 (por exemplo: imipramida). Não obstante, os
estudos in vitro demonstraram haver um baixo índice de união a estas
enzimas (a K 1 média situa-se ao redor de 50nM a 130nM). Dadas as
concentrações plasmáticas terapêuticas da donepezila (164nM), a probabilidade
de ocorrência de interação é reduzida. Desconhece-se o potencial de indução
enzimática que a donepezila possa ter. Efeito de outros fármacos sobre o
metabolismo da donepezila: o cetoconazol e a quinidina, respectivamente
inibidores das isoenzimas CYP450, 3A4 e 2D6 inibem o metabolismo da donepezila in
vitro. Os indutores das isoenzimas CYP 3A4 e 2D6 (por exemplo, fenitoína,
carbamazepina, dexametasona, rifampicina e fenobarbital) poderiam aumentar o
índice de eliminação da donepezila.Uso com agentes anticolinégicos: em função
de seu mecanismo de ação, os inibidores da colinesterase apresentam o potencial
de interferir com a atividade dos medicamentos anticolinérgicos. Uso com
agentes colinomiméticos e outros inibidores da colinesterase: quando os
inibidores da colinesterase são administrados concomitantemente com a
succinilcolina, agentes bloqueadores neuromusculares similares ou agonistas
colinérgicos como o betanecol, pode-se esperar um efeito sinérgico.
Contraindicações.
Hipersensibilidade ao fármaco ou aos
derivados piperidínicos. Menores de 18 anos. Gravidez e lactação.