Ações terapêuticas.
Anti-hipertensivo. Antianginoso.
Propriedades.
É um novo agente bloqueador dos canais
de cálcio (antagonista do cálcio) que bloqueia de modo específico e seletivo os
canais tipo T localizados nas células do músculo liso vascular e do nó
sinoatrial. Esses canais, diferentemente dos canais L, são de baixa voltagem, e
seu bloqueio pelo mibefradil é transitório. Devido a sua localização
preferencial no nível vascular e muito pouco no músculo cardíaco, consegue-se
uma vasodilatação coronariana e periférica seletiva, com ausência de
taquicardia reflexa (efeito inotrópico negativo). Em doses de 50 mg/dia
controla os valores tensionais durante um período de 24 horas. Os estudos
publicados demonstraram menor índice de edemas periféricos do que aqueles
provocados pelos antagonistas do cálcio clássicos (nifedipino) e recentes
(anlodipino). O mibefradil é um vasodilatador arterial periférico que, pelo
fato de modular o influxo de cálcio nas células da musculatura lisa vascular e
em menor grau nas células miocárdicas, reduz a resistência vascular periférica
e, assim, a hipertensão arterial.O único local de ação é tanto em canais T
dependentes de baixa voltagem como nos canais L dependentes de alta voltagem,
não interagindo com os sítios de ligação dos compostos diidropiridínicos. O
mibefradil não provoca taquicardia reflexa, mas sim uma ligeira diminuição da
frequência cardíaca. A ação anti-hipertensiva foi comprovada na posição
sentada, em pé e supina. O início de ação é gradual, e seu efeito máximo é
alcançado em cerca de 1 a 2 semanas. Não se observaram fenômenos de tolerância
nem efeito rebote pela suspensão do tratamento. É absorvido rápida e
completamente após administração por via oral, com uma biodisponibilidade de
70%, que não varia se o fármaco é administrado com alimentos. É metabolizado
antes de alcançar a circulação sistêmica (efeito de primeira passagem), e
portanto a biodisponibilidade desse fármaco diminui nos tratamentos
prolongados, alcançando equilíbrio dentro de poucas semanas. Une-se em grande
extensão a proteínas plasmáticas (99%) e sofre dupla metabolização: hidrólise
(metabólito alcoólico) e oxidação pelo citocromo P-450.Em tratamentos
prolongados, a via oxidativa perde importância para a via do metabólito
alcoólico. Sua eliminação é biliar (75%) e urinária (25%), e menos de 3% são
eliminados pela urina sem modificações.
Indicações.
Hipertensão arterial leve, moderada ou
grave (ou de causa renal). Tratamento da angina de peito crônica estável.
Cardiopatia isquêmica.
Posologia.
Na hipertensão arterial: 50 mg uma vez
por dia, porém podem ser administrados até 100 mg, se necessário. Na angina de
peito crônica estável: 50 mg uma vez ao dia. Dependendo da resposta clínica
poderá ser aumentado para 100 mg. A ingestão é independente dos alimentos; pode
ser administrado antes, durante ou após a refeição.
Superdosagem.
Não foram registrados casos de
superdose; entretanto, devido a suas características farmacológicas, pode haver
colapso vascular, vasodilatação periférica, bradicardia e bloqueio AV grave.
Nesses casos será necessário monitoração cardiorrespiratória juntamente com
medidas de suporte hemodinâmico, hidratação e aminas vasoativas. Nos casos de
bradicardia ou arritmias cardíacas, recomendam-se atropina, isoproterenol ou
marcapasso. O gluconato de cálcio intravenoso pode ser eficaz para antagonizar
os efeitos dos antagonistas do cálcio. O produto não é dialisável.
Reações adversas.
O fármaco é bem tolerado e os efeitos
secundários que se apresentaram foram leves e transitórios. Observam-se
astenia, enjoos, fadiga, edemas periféricos e, muito raramente, bradicardia
sintomática ou bloqueio AV de segundo grau.
Precauções.
Por sua ação vasodilatadora gradual,
não se observou hipotensão após a primeira dose, porém o fármaco deve ser
empregado com precaução em pacientes com estenose aórtica grave. O emprego de
antagonistas de cálcio em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva deve
ser feito com cautela. Em pacientes com disfunção hepática não foram detectadas
alterações farmacocinéticas importantes; entretanto, por sua eliminação
preferencial por via biliar, aconselha-se vigiar a pressão arterial e a
frequência cardíaca em pacientes com hepatopatias graves. Sua eficácia e
segurança não foram estabelecidas em crianças. Igualmente não estão
estabelecidos efeitos específicos sobre a capacidade de conduzir veículos ou
utilizar maquinarias. Não foram realizados estudos bem controlados durante a
gravidez e a lactação; assim, nesses casos o fármaco será usado somente se o
benefício para a mãe superar o risco potencial para feto.
Interações.
Não foram observadas interações com
atenolol, enalapril, teofilina ou cimetidina. Em cerca de 20% a 30% de
pacientes digitalizados observaram-se discretos aumentos dos níveis plasmáticos
de digoxina. O mibefradil interage com outros fármacos que são metabolizados
pelo citocromo P-450. Com a terfenadina pode aumentar seus níveis séricos e,
consequentemente, aumentar em cerca de 12% o intervalo QT. Por essa razão esses
fármacos não devem ser associados em função do risco potencial de arritmias
cardíacas graves. Também está contraindicada a associação com cisaprida ou
astemizol. Com ciclosporina A pode haver aumento de seus níveis até 2 vezes o
valor inicial; assim, aconselha-se monitoração e ajuste da dose. Com quinidina
foram registradas elevações plasmáticas durante a administração de dose única
dessa última; não obstante, o metabólito, que é também ativo, foi reduzido. Com
metoprolol observam-se aumentos dos níveis séricos, da área sob a curva (AUC) e
da meia-vida desse betabloqueador. Seria desejável ajustar a dose do
metoprolol.
Contraindicações.
Pacientes com síndrome do nó sinusal
ou com bloqueio atrioventricular de segundo ou terceiro graus, não portadores
de marca-passo. Pacientes hipersensíveis ao mibefradil. Administração
concomitante com terfenadina, cisaprida ou astemizol.