Ações terapêuticas.
Bloqueador b 1 seletivo.
Propriedades.
Trata-se de um bloqueador altamente
seletivo dos receptores b 1 adrenérgicos, que apresenta efeito estabilizador
de membrana relevante. Sua afinidade pelos receptores b 2 da
musculatura lisa brônquica e vascular é discreta, bem como pelos receptores b
2 implicados na regulação do metabolismo. Assim, o bisoprolol não tem
efeito sobre a resistência das vias aéreas nem apresenta efeitos metabólicos
mediados pelos receptores b 2 adrenérgicos. Sua atividade seletiva
sobre receptores b 1 é mantida mesmo em doses superiores àquelas
recomendadas terapeuticamente, e não apresenta efeito inotrópico negativo.
Apresenta adequada absorção no trato digestório após administração por via
oral; aproximadamente 30% do bisoprolol absorvido une-se a proteínas
plasmáticas. Cerca de 50% da dose não é metabolizada em nível hepático
originando metabólitos inativos que são eliminados por via urinária, ao passo
que os 50% restantes são eliminados também pela mesma via porém sem
modificação.Como a eliminação se processa na mesma proporção em fígado e rins,
não há necessidade de reajustar a dose em pacientes com insuficiência renal ou
hepática. A cinética do bisoprolol é linear e independe da idade. Seus níveis
plasmáticos em pacientes com insuficiência cardíaca crônica estável e crônica
(Classe III NYHA) são maiores e a meia-vida é prolongada nestes pacientes, em
comparação com os valores em pacientes sadios. A administração de bisoprolol em
pacientes com doença coronariana sem insuficiência cardíaca provoca redução da
frequência cardíaca e do volume-minuto e, consequentemente, do consumo de
energia pelo coração. Durante tratamento crônico com este fármaco observa-se
diminuição da resistência vascular periférica, a qual se mostra aumentada no
início da terapia.
Indicações.
Hipertensão. Angina pectoris.
Tratamento da insuficiência cardíaca crônica estável de grau moderado a grave,
com função sistólica ventricular comprometida, em associação com inibidores da
enzima conversora de angiotensina (IECA) e diuréticos e, opcionalmente, com
glicosídeos cardíacos.
Posologia.
Hipertensão: 2,5 mg por dia. Dose
máxima: 10 mg por dia. Insuficiência cardíaca crônica: terapia escalonada e
gradativa: 1,25 mg uma vez ao dia durante 1 semana; se a tolerância é boa, a
dose pode ser aumentada para 2,5 mg uma vez ao dia durante mais 1 semana. A
seguir a dose pode ser aumentada para 3,75 mg uma vez ao dia na semana seguinte
e por fim para 5 mg uma vez ao dia durante as 4 semanas a seguir. A dose de
manutenção é de 10 mg uma vez ao dia.
Superdosagem.
Atualmente não há evidências de
superdose com bisoprolol no tratamento da insuficiência cardíaca crônica. Caso
ocorra, os sintomas esperados com maior frequência são bradicardia, hipotensão,
broncospasmo, insuficiência cardíaca aguda e hipoglicemia. Em geral, nessa
eventualidade a conduta seria interromper o tratamento com o fármaco de forma
paulatina e administrar atropina para compensar a bradicardia; se a resposta
for inapropriada, poderá ser utilizado, com precaução, o isoproterenol ou
qualquer outro fármaco com atividade cronotrópica positiva, ou ser colocado um
marca-passo transvenoso. Para a hipotensão, poderão administrar-se líquidos
intravenosos, fármacos vasopressores e glucagon intravenoso. Caso se apresente
bloqueio atrioventricular (segundo ou terceiro graus), os pacientes deverão ser
cuidadosamente monitorados, administrando-se isoproterenol em infusão ou,
dependendo de avaliação apropriada, através da colocação de um marca-passo
transvenoso.Na eventualidade de ocorrer piora súbita da insuficiência cardíaca,
deverão administrar-se, por via intravenosa, diuréticos, fármacos inotrópicos e
vasodilatadores. Além disto seria aconselhável administrar broncodilatadores
como o isoproterenol e/ou aminofilina para o broncospasmo e glicose por via
intravenosa para compensar a hipoglicemia.
Reações adversas.
As principais reações adversas
compreendem cansaço, esgotamento, enjoos, dores de cabeça, distúrbios de sono,
depressão, diminuição do fluxo lacrimal, transtornos auditivos, sensação de
frio, insensibilidade nas extremidades, bradicardia, bloqueios
atrioventriculares, piora da insuficiência cardíaca, queda brusca da pressão
arterial, hipotensão ortostática, espasmos brônquicos em pacientes com
histórico de asma brônquica ou transtornos das vias respiratórias, náuseas,
vômitos, diarreia, constipação, fraqueza e cãibras musculares.
Precauções.
Este fármaco deve ser usado com
precaução em pacientes com broncospasmo (asma brônquica, doenças obstrutivas
das vias respiratórias), diabetes mellitus com variações amplas da glicemia
pois os sintomas da hipoglicemia podem ser mascarados, jejum prolongado,
acidose metabólica, alterações discretas na transmissão dos impulsos entre
átrios e ventrículos (bloqueio atrioventricular de primeiro grau), alterações
da irrigação do tecido cardíaco em função da estenose espasmódica dos vasos
coronarianos (angina de Prinzmetal), doença arterial periférica oclusiva e em
pacientes sob ação de anestésicos inalatórios ou durante curso de terapia de
dessensibilização. O bisoprolol possui certas ações farmacológicas que podem
redundar em efeitos prejudiciais à gestação e/ou ao feto/recém-nascido. Em
geral, os bloqueadores b 1 adrenérgicos diminuem a perfusão
placentária, fato que tem sido associado com diminuição do ritmo de
crescimento, morte intrauterina e abortamento ou parto prematuro.O feto e o
recém-nascido podem, eventualmente, apresentar reações adversas (por exemplo
hipoglicemia e bradicardia). Assim, o bisoprolol não deve ser administrado
durante a gravidez, a menos que estritamente necessário. Visto desconhecer-se
sua eliminação através do leite materno, recomenda-se não administrar a mulheres
durante o período de amamentação. Recomenda-se evitar sua administração em
crianças, ao passo que em idosos, particularmente naqueles com insuficiência
cardíaca crônica e comprometimento da função hepática ou renal, seu uso deverá
ser cauteloso. Na asma brônquica ou outras doenças pulmonares obstrutivas
crônicas que podem provocar sintomatologia, a terapia broncodilatadora deve ser
instituída concomitantemente. Como em casos isolados pode ocorrer aumento da
resistência das vias aéreas em pacientes com asma, a dose de bisoprolol nestas
circunstâncias deveria ser aumentada. Não se deverá iniciar a administração a
pacientes portadores de feocromocitoma antes de instaurar previamente o
tratamento a-bloqueador.Não há experiência terapêutica no tratamento da
insuficiência cardíaca com respeito aos seguintes estados e enfermidades:
diabetes mellitus insulinodependente (tipo I); função renal comprometida (com
valores de creatinina sérica = 300 mmol/l) e comprometimento da função
hepática. Antes de iniciar a terapia em pacientes portadores de insuficiência
crônica, esta deve ser estável, sendo que o paciente não deve ter manifestado
crises agudas durante as últimas seis semanas, nem deve ter precisado
alterações significativas no tratamento de base da moléstia nas últimas duas
semanas. Previamente à administração de bisoprolol, estes pacientes devem estar
sob tratamento com inibidores da ECA (ou outro vasodilatador, caso se apresente
intolerância aos inibidores da ECA) e diuréticos e, opcionalmente, glicosídeos
cardíacos. Em geral, o tratamento da insuficiência cardíaca crônica é um
tratamento de longo prazo.A manifestação de efeitos adversos (bradicardia
sintomática ou hipotensão, sintomas de piora da insuficiência cardíaca) pode
impedir que todos os pacientes possam ser tratados com a dose máxima
recomendada. Se necessário, a dose máxima alcançada poderá ser paulatinamente
reduzida, fase a fase. Dependendo de avaliação apropriada, o tratamento poderá
ser interrompido e posteriormente retomado. Caso se apresente piora da
insuficiência cardíaca recomenda-se considerar a possibilidade de realizar
reajustes na dose do tratamento de base concomitante (inibidores da ECA,
diuréticos). O tratamento não deve ser interrompido de modo brusco, visto que
poderia haver piora da condição. Caso for necessária, a interrupção deve ser
feita com paulatina redução de doses, por exemplo reduzir a dose à metade
durante 1 semana e posteriormente, se necessário, reduzir novamente a dose à
metade da anterior durante mais 1 semana.
Interações.
A administração simultânea com
antagonistas de cálcio produz redução mais pronunciada da pressão arterial,
retardo na condução atrioventricular e diminuição da força de contração do
músculo cardíaco. A clonidina aumenta o risco de hipertensão rebote, assim como
importante diminuição da freqüência e da condução cardíacas. Os inibidores da
monoaminoxidase (exceto os inibidores da MAO-B) potencializam o efeito
hipotensor do bisoprolol e aumentam o risco de crises hipertensivas. Os
antiarrítmicos de classe I (disopiramida, quinidina) podem potencializar os
efeitos sobre o tempo de condução atrial e aumentar o efeito inotrópico
negativo. Por outro lado, os antiarrítmicos de classe III (amiodarona) podem
potencializar o efeito sobre o tempo de condução atrial. Os agentes
parassimpatomiméticos podem prolongar o tempo de transmissão atrioventricular.
Outros b-bloqueadores podem apresentar efeitos aditivos. A insulina e os
hipoglicemiantes orais intensificam os efeitos de hipoglicemia (o bloqueio dos
receptores b pode mascarar sintomas de hipoglicemia).Os anestésicos podem
atenuar a taquicardia reflexa e aumentar o risco de hipotensão (o bloqueio b
reduz o risco de arritmias durante o período de indução anestésica e durante a
intubação). Os digitálicos podem diminuir a frequência cardíaca e aumentar o
tempo de condução atrioventricular. Os fármacos inibidores da prostaglandina
sintetase (por exemplo ácido acetilsalicílico) podem diminuir o efeito
hipotensor do bisoprolol. Os derivados da ergotamina podem aumentar os
distúrbios circulatórios periféricos. Os simpatomiméticos, usados em combinação
com o bisoprolol, podem causar redução dos efeitos de ambas as substâncias.
Ocorre aumento do efeito hipotensor do bisoprolol com as seguintes classes de
fármacos: antidepressivos tricíclicos, barbitúricos, fenotiazínicos e outras
drogas anti-hipertensivas. A rifampicina induz discreta diminuição da meia-vida
de eliminação do bisoprolol em decorrência da indução de enzimas
metabolizadoras hepáticas; entretanto, em geral não há necessidade de reajuste
posológico.
Contraindicações.
Insuficiência cardíaca aguda ou
crônica, choque cardiogênico, bloqueio atrioventricular de segundo ou terceiro
graus (sem marca-passos), sídrome do nó sinusal, distúrbios da transmissão do
impulso entre nó sinusal e átrios (bloqueio sinoatrial), bradicardia com
valores inferiores a 60 batimentos por minuto antes do início do tratamento,
hipotensão (pressão arterial sistólica inferior a 100 mmHg), oclusão arterial
periférica avançada e estágios tardios de distúrbios arteriais periféricos ou
espasmos vasculares nos dedos dos pés ou mãos (síndrome de Raynaud),
feocromocitoma não-tratado, hipersensibilidade ao bisoprolol e acidose
metabólica.